terça-feira, 24 de abril de 2012

Quem matou Décio Sá?

Por Ed Wilson Araújo

Antes de qualquer análise, seguem os nossos votos de condolência aos familiares e amigos do jornalista Décio Sá, excluído da sociedade em um ato de barbárie.

O assassinato do jornalista militante do Sistema Mirante/Globo de Comunicação é mais um fato a comprovar o estágio pré-político do Maranhão degenerado.

A pistolagem que normalmente mata quilombolas e ameaça lideranças sindicais no campo chegou novamente à avenida Litorânea, 15 anos após a execução do delegado Stênio Mendonça (1997), na época puxando o fio da meada do crime organizado.

Em uma década e meia, as organizações criminosas latentes voltam a operar cara a cara, desta feita contra um jornalista influente nos meios político e jurídico.

Na ausência da Política como forma de administrar a coisa pública e organizar a vida em sociedade, imperam a força, o caos e a morte.

A começar de São Luís, com os agravantes da vizinha cidade de Paço do Lumiar, chegando aos lugares mais longínquos, falta quase tudo aos maranhenses.

Falta, sobretudo, dignidade e ética às administrações federal, estadual e municipal. Nesse vazio, o crime cresce e ameaça os controladores oficiais da máquina pública e dos interesses privados.

Décio Sá operava informações estratégicas nos bastidores das tenebrosas transações dos grupos de poder no Maranhão: agiotagem, empreiteiras, negócios do Judiciário e de parte do governo.

Vinham de Décio, recentemente, ataques virulentos ao chefe da Casa Civil Luís Fernando Silva (PMDB), um dos nomes cotados para substituir Roseana Sarney no governo.

O jornalista executado também denunciou fatos execráveis como a venda de sentenças no Tribunal de Justiça (TJ) e o sobe-desce de prefeitos no Tribunal Regional Eleitoral (TRE).

Vieram à tona ainda, nas suas matérias, um dos mais rentáveis negócios contra o povo maranhense – a agiotagem nas prefeituras.

Reféns dos agiotas financiadores de campanha, os candidatos às prefeituras empenham as verbas públicas para saldar as dívidas futuras com os credores. Assim, escorrem pelo ralo muitos FPM (Fundo de Participação Municipal).

Ganhando a eleição, o prefeito agenciado pelos agiotas destina aos operadores de campanha grande parte da verba que deveria atender à população.

Os fatos filtrados por Décio Sá, até transformarem-se em notícia, refletiam o submundo maranhense entregue à corrupção, às chantagens, golpes e falcatruas.

Está nesse caudaloso e poluído rio o(s) mandante(s) da execução. Décio é um óbito do Maranhão degenerado, entregue às forças obscuras do pragmatismo clientelista, da aristocracia parasitária e de uma elite perversa.

Décio Sá não tinha uma causa. Era o jornalista de uma parte do governo, fragmentado em interesses específicos, mas unido na tese de manter o poder.

A execução do jornalista é um atentado contra a sociedade civil organizada e desorganizada. Se mataram um jornalista destacado no Sistema Mirante (Globo), mil vezes mais vulneráveis estão os cidadãos comuns e as lideranças sindicais desprotegidas diante do latifúndio e dos seus capangas.

Mataram Décio Sá os mercenários contratados para executar o crime. Porém, o Judiciário corrupto, a certeza da impunidade e a fragilidade das instituições têm co-autoria nessa barbárie.

Nenhum comentário: