*Nonato Reis
Se a legislação eleitoral permitisse, o meu primeiro voto,
aos 13 anos, seria para Walber Duailib. Ele disputava a sua primeira eleição ao
cargo de prefeito de Viana. Gostava dele. Ia aos comícios e apreciava os seus
discursos, carregados de emoção, e aquele seu jeito de falar, arrastando a voz,
especialmente quando dizia “meus camaradas!”, a cada inicio de frase. O jingle
de sua campanha tornou-se a minha música preferida e até hoje trago os seus
versos na memória. “Vamos todos eleitores/em Walber Duailib votar/ele é o nosso
candidato/ e é muito popular”.
Walber perdeu aquela eleição para Lino Lopes, porém no
pleito seguinte retornaria com força, iniciando uma carreira vitoriosa, que
somaria dois mandatos de prefeito e dois de deputado estadual. Mais do que
político populista, que sabia como tocar o coração das pessoas, Walber
tornou-se um mito, amado e também criticado, porém jamais odiado, apesar dos
equívocos cometidos no exercício da função pública.
Fez história em Viana porque era verdadeiro. Não sabia
mentir. Escrachado na forma de ser, era avesso a etiquetas e dissimulações.
Tinha um jeito peculiar de administrar, que privilegiava o individual em
detrimento do coletivo. As pessoas humildes que faziam romaria na sua casa para
pedir-lhe ajuda, ele atendia com a maior presteza, e sempre dava um jeito de
prover suas necessidades. A cidade, porém, deixava de lado, imersa no mais
penoso abandono.
Em 1987, durante a eclosão de denúncias de malversação de
dinheiro público no governo de José Sarney, estive em Viana, como repórter do
Jornal de Hoje, para fazer uma reportagem sobre a construção de um hotel, que
era objeto de investigação no plano federal. Fiquei chocado com o estado de
conservação da cidade. Ruas esburacadas, lixo amontoado nas ruas e terrenos
baldios, esgotos escorrendo a céu aberto.
Ao passar pela praça Ozimo de Carvalho, deparei com a sede
da prefeitura em petição de miséria. O telhado havia desabado e cabras pastavam
dentro do prédio. A foto estamparia a matéria de duas páginas do JH e correria
mundo, como prova do descaso administrativo.
Então prefeito, Walber passava mais tempo em São Luís do que
em Viana. À época correu uma estória de que um vereador, na tentativa de atrair
o prefeito para a cidade, teria sugerido a construção em Viana de um cassino,
em face do conhecido apego de Walber por carteado.
Para construir o hotel, Walber mandara demolir o sobrado do
Canto Grande, um dos prédios mais importantes da cidade, que servira de
residência para a família de Ozimo de Carvalho, e no século anterior fora palco
de homenagem ao Duque de Caxias. Encontrei-me com Walber em São Luís, em uma
casa no Apeadouro. Ele me recebeu deitado em uma rede e com cara de poucos
amigos.
Quis saber por que ele queria construir um hotel, justo no
terreno em que abrigava o sobrado. Ele deu de ombros. “É uma localização boa”.
Eu redargui. “Mas prefeito, aquele sobrado é um monumento histórico! O senhor
está cometendo um crime contra a memória da cidade”. Walber reagiu com
menosprezo. “Crime coisa nenhuma. Esse negócio de história é uma bobagem.
Aquele sobrado está caindo aos pedaços. Eu estou é livrando a cidade daquela
coisa horrorosa, vou botar ali um hotel de luxo”.
Eu abordei a denúncia de má aplicação de recursos públicos
em Viana e Walber explodiu de raiva. Fez menção de terminar ali mesmo a
entrevista, depois se fez de vítima e lançou mão de uma bravata. “Estou sendo
perseguido demais, só porque desejo ajudar a cidade. Isso me magoa. Mas se
continuarem com essas acusações, eu retiro Viana do mapa do Brasil, vamos ser
uma nação independente”.
Eu tinha uma técnica de entrevista que consistia em ‘bater’
e ‘assoprar’. Quando sentia que o entrevistado estava no limite da tolerância,
mudava o rumo da conversa e engatava um assunto mais palatável. Walber adorava
falar sobre mulheres. Corria uma estória, do tempo da primeira campanha
eleitoral dele, que um sujeito o procurou com uma filha, para pedir-lhe
emprego, ao que Walber, depois de olhar a garota, disse na bucha: “Essa aí está
boa é de sarro”.
Eu o provoquei: “Prefeito, é verdade que o senhor não pode
ver um rabo de saia na sua frente?”. Os olhos dele brilharam e a conversa
assumiu um tom de botequim entre arroubos e gargalhadas. Ele então me contou um
causo que teria acontecido no Anjo da Guarda. “Fui para o quarto com uma menina
e comecei a fazer o serviço. Depois de algum tempo ela disse: “Seu Walber, me
espere um minutinho, que vou ao banheiro!” Vinte minutos depois, ao voltar e
ver que ele se encontrava preparado para nova sessão de amor, a menina se
assustou. “Seu Walber, o senhor não cansa?!”. E ele arrematou: “Aí que eu fui
saber que os homens param entre uma e outra para descansar. Comigo não tem
isso”.
Muito tempo depois o encontrei nos corredores da Assembléia
Legislativa, na Rua do Egito. Parecia outra pessoa. Jazia sobre uma cadeira de
rodas, os olhos tristes a fitarem o nada. Uma das pernas amputadas,
conseqüência do diabetes e dos hábitos de vida, incompatíveis com a
complexidade da doença. Walber morreu em 2008, em plena campanha por mais um
mandado eletivo. A política foi a sua paixão. Não porque dela fizesse um meio
de vida, mais porque nascera para estar reunido e compartilhar.
*Jornalista e escreve para o Jornal Pequeno aos domingos
7 comentários:
Walber era um populista!
É por essas e outras administrações catastróficas e irresponsáveis, exercidas por ESSE e outros que já passaram pelo cargo de Prefeito de Viana, que minha terra e de todos os vianenses, esta padecendo com a ausência de desenvolvimento estruturante em todo seu espaço territorial, seja na área urbana, rural, semi-urbana, etc. Fazer graça com dinheiro público é crime e fizeram muito isso em Viana, mas, hoje com a administração séria, honesta, voltada para atender os anseios do povo, do Prefeito Chico Gomes, espero ver minha terra sair desse atraso e galgar muitos degraus de desenvolvimento. Fora com esses incompetentes que só querem se dar bem e força Prefeito Chico Gomes, faça a sua parte que o povo vianense saberá recompensá-lo. Abraços Stelio Carvalho
Era um populista irresponsável que através dos parcos recursos públicos de Viana recebidos e para aplicação no desenvolvimento do nosso povo, ficava fazendo graça dando presentes de toda especie a população mais necessitada, sem nenhum compromisso com seus munícipes.
Ser populista não é se apropriar dos recursos públicos, que é para benefícios de todos os vianenses e sair dando presentinhos como forma de agradar seus abnegados, deixando Viana abandonado a própria sorte enquanto fazia as suas apostas no carteado lá em São Luis ou em Viana mesmo, às vezes gastava o próprio dinheiro publico que recebia, será que assim é ser populista?, não acredito.
Meu caro Jornalista, boa noite, espero que todos seus familiares estejam em paz e com saúde, extensivo a teus pais. Tenho estranhado pois tenho feito algumas postagens e voce não tem aprovado a sua publicação, espero que não esteja lhe ofedendo, pois sabes perfeitamente o carinho e apreço que tenho por sua pessoa. Essa última postagem sobre aquele ex prefeito que todos conhecem pela alcunha de de W. Dualibe, que exerceu uma administração sem que possamos fazer qualquer comentário lógico, inclusive derrubou o nosso "sobradão" (de longas histórias) e que ele só sabia era jogar carteado com o dinheiro da Prefeitura, soubenos na época, que recebia o cheque referente ao repasse de recursos públicos a ser aplicado nas obras em Viana, fazia apostas dando como garantia o dito cheque, é possível?, só em Viana.
Desculpe amigo, mas, não poderia deixar de fazer este registro, com um grande abraço
Bom dia, meu caro anônimo. A postagem em epígrafe é do jornalista vianense, Nonato Reis, que escreve aos domingos no Jornal Pequeno, de São Luís, conforme crédito do post. Tenho minhas opiniões pessoais a respeito do Sr. Walber Dualibe, tanto como pessoa, assim como o político populista que ele foi, inclusive escrevendo a respeito aqui neste Blog. Amado e odiado, Walber deixou a sua marca na política vianense. Não se pode dizer que ele não faça parte da nossa história. De qualquer forma, não podemos achincalhar o seu passado ou sua atividade agora depois de morto. O Artigo do jornalista Nonato Reis aborda de forma brilhante e com conhecimento de causa, algumas peculiaridades e o modo de agir do "carcamano", com deliciosas doses de humor. O resto é história! Abraços.
Meu caro Stélio, sei que vc como ninguém sentiu na pele a tristeza de ver o sobradão do canto grande, onde viveram você e seus familiares.Um importante capítulo da história vianense foi demolido ali, pela insensibilidade do Sr. Walber Duailibe e dos seus assessores. Que bom seria se os novos administradores buscassem junto ao ministério do Turismo, recursos para preservar a nossa história, pois o Sobrado Amarelo, entre outros, também estão preste a desabar. Uma tristeza e tanto! Abraços.
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