Residência de Padre Eider
Varanda da acolhedora casa do religioso
Detalhe na porta do quarto de Padre Eider
O jornalista Walter Rodrigues, publicou em seu “Blogue do Colunão”, www.walter-rodrigues.jor.br – um dos mais acessados e comentados do Estado -, matéria especial sobre o nosso saudoso Padre Eider Furtado, do qual era amigo e companheiro em muitas lutas sociais.
Abaixo a íntegra do texto.
Morre o padre Eider, de Viana
Morreu nesta segunda 9, em Viana (219 km de São Luís), aos 93, padre Eider Furtado, um dos mais queridos e respeitados sacerdotes do Maranhão.
Saudade do tempo em que brigamos juntos contra as arbitrariedades do bispo Adalberto Paulo da Silva, ligado à repressão do regime militar.
Quando o conheci, trabalhando como correspondente de O Estado de S.Paulo em São Luís no final dos anos 1970, publiquei uma reportagem sobre a “guerra” do bispo contra os padres e freiras esquerdistas de Viana.
A maioria dos religiosos dissidentes pertencia ao Centro Eclesiástico para a América Latina, uma organização italiana fortemente inspirada nas teses sociais do Concílio Ecumênico Vaticano II (aquele do papa bom João XXIII).
A reportagem me valeu ser chamado ao quartel do comando do 24o Batalhão de Caçadores, onde o chefe da 2a seção (segurança interna), capitão Dualibe ― há sempre um Dualibe ou Murad em toda parte no Maranhão ― tentou em vão obter que eu lhe abrisse minhas fontes. Antes o próprio bispo estivera em minha casa, com aqueles olhos de investigador e feiticeiro.
Quando Duailibe me levou à presença do comandante do batalhão, coronel Darcy Dubrawá, o incidente encerrou-se de maneira até engraçada. Eu disse a ele, brincando, que não podia faltar ao compromisso de sigilo da fonte porque tinha sido escoteiro e feito aquele juramento de nunca mentir. Pensei que a brincadeira fora um erro quando o coronel me olhou ainda mais sério. Mas a resposta dele, apesar do tom seco, foi uma agradável surpresa, creio que para o capitão Dualibe também:
― Se é uma questão de ética, assunto encerrado.
Desde então conheci muitos civis, de direita e de esquerda, que não fazem a menor idéia do que seja uma questão de ética.
Adalberto conseguiu expulsar da diocese os estrangeiros insubmissos, usando a força do cargo e suas ligações com os chamados órgãos de segurança. Foi mais difícil com Eider, que continuou resistindo por muitos anos, quase sozinho.
Eider professava o cristianismo renovado que lhe incutira o bispo Hélio Campos, antecessor de Adalberto, cuja devoção chegara a fazê-lo dormir numa delegacia em solidariedade a lavradores presos em conflito fundiário. O Vaticano, já então governado por Paulo VI, não gostou nenhum pouco de saber daquilo.
Por último, usando de seus poderes discricionários, Adalberto excomungou o adversário, com Roma dizendo amém.
Mas nada como um dia atrás de outro. De lambança em lambança, o bispo acabou enfiando os pés pelas mãos num episódio menor ― de “adultério” e pecados afins ― que tentou remediar enviando um questionário aos padres, na esperança de que desmentissem o boato. Só coneguiu divulgá-lo ainda mais, “assustando os cavalos da rua”, como disse uma atriz numa final do século 19. Aí o Vaticano zangou-se e resolveu bani-lo para Fortaleza, onde em 2004 aposentou-se como bispo auxiliar.
Eider, ao contrário, foi reabilitado. Nos anos 90 devolveram-lhe as ordens e ainda teve a alegria de auxiliar o novo bispo, Xavier Gilles, no governo da diocese.
Há muitos anos que não o via. Lembro-me dele, em Viana, com os sobrinhos Francisco Pinto, advogado, e Conceição, professora, falando mal de Adalberto com muito bom humor. Que pena que tenha ido.
Fotos: arquivo da AVL e Luiz Morais
Um comentário:
Afinal, a reclamação trabalhista do padre Eider foi julgada prodente? A ação defendida por Wadih Damous correu na Justiça maranhense e era reivindicada pelo padre Heider, do município de Viana (MA), mais conhecido como “padre Vermelho”,
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