MEU ADEUS A WALTER RODRIGUES
Hoje completam oito dias da morte do jornalista Walter Rodrigues. Ainda tento adaptar-me à difícil situação de acessar a internet sem clicar no Blogue do Colunão, editado por WR após o desencarte do Jornal Pequeno.
Walter era um amigo e professor de Jornalismo. Trabalhamos juntos na versão impressa do Colunão, antes de ele hospedar-se na internet.
Foram dias e noites de atividade intensa para fechar o jornal. Eu, apenas na condição de colaborador, vivenciei um intenso aprendizado na prática de escrever e editar.
Tínhamos muitas convergências. E, como bons amigos, divergíamos também. Mas era uma briga saudável, sem os limites do maniqueísmo ideológico que divide o Maranhão.
Sobre as eleições de 2010, por exemplo, nossas opiniões contrariavam-se. Walter achava que o melhor caminho para o PT seria a aliança com o PMDB no Maranhão, seguindo a orientação do comando nacional petista e de Lula.
E justificava assim: “A Sé não cabe na Santaninha”, referindo-se às dimensões da catedral de São Luís e da igreja no diminutivo. Para ele, a política local não poderia sobrepor a nacional.
Eu replicava: “Walter, já que você falou de igreja, o melhor casamento do PT é com o PC do B. Os dois braços da oligarquia – Sarney e Jackson – estão fraturados. É o momento de uma terceira força política avançar na disputa aqui. Vou defender a candidatura de Flavio Dino.”
Assim, entrávamos pela madrugada em exaustivas conversas. A última, por telefone, começou às 10 da noite e parou quase a uma hora, já na madrugada do dia seguinte.
O que mais impressionava em Walter era a erudição. A capacidade de entender e discorrer sobre variados assuntos em profundidade.
Certa vez, em um dos nossos animados papos no escritório da casa dele, animou-se ao falar sobre o escritor Edgar Alan Poe. Como exímio jornalista investigativo, WR conhecia a fundo a literatura policial.
Não só discorreu sobre a vida conturbada e o perfil literário de Poe, como recitou “O corvo” em refinada performance interpretativa.
WR oscilava entre o bom humor e a ira, aquele mais que este. Porém, quando a ira aflorava, era capaz de destruir o adversário lançando sobre este todas as suas armas.
Uma parte da cidade o detestava, porque às vezes extrapolava nas avaliações e acabava ferindo pessoas de boa índole. Outra parte o idolatrava.
A tristeza deste texto é que não terá réplica. Walter silenciou. E com ele toda a capacidade argumentativa-investigativa que dava mais brilho ao jornalismo maranhense.
Walter fazia do jornalismo mais que um ofício. A profissão, para ele, era uma variedade de causas. E assim enfrentou o crime organizado no Maranhão; denunciou juízes e desembargadores, políticos e policiais; opunha-se às agressões ao meio ambiente; expunha as violações dos direitos humanos, especialmente a tortura; combatia o imperialismo e tantas outras mazelas do mundo.
Na campanha eleitoral de 2008, em São Luís, ele foi além da cobertura jornalística. Vestiu a alma de vermelho e virou militante da candidatura de Flavio Dino (PC do B) a prefeito, contra o atraso tucano de João Castelo (PSDB).
Mas este mesmo Dino também fora criticado antes e depois da eleição nas linhas do Colunão. Walter ajudava quando necessário, mas não bajulava.
Na noite da morte dele eu estava no hospital, acometido de uma súbita e incontrolável dor de cabeça que se espalhou pela nuca desde as 19 horas.
O médico diagnosticou “cefaléia de estresse” e despachou-me com remédios relaxantes.
Ao voltar para casa, ainda zonzo sob efeito dos medicamentos, teimei em ligar o computador e deparei-me com a pior notícia do ano: a morte de WR.
Não consegui acreditar. Ainda estou recuperando-me de tudo. Do cansaço e da perda. Vai ser difícil.
Escrito por Ed Wilson – www.blogdoedwilson.blogspot.com
Hoje completam oito dias da morte do jornalista Walter Rodrigues. Ainda tento adaptar-me à difícil situação de acessar a internet sem clicar no Blogue do Colunão, editado por WR após o desencarte do Jornal Pequeno.
Walter era um amigo e professor de Jornalismo. Trabalhamos juntos na versão impressa do Colunão, antes de ele hospedar-se na internet.
Foram dias e noites de atividade intensa para fechar o jornal. Eu, apenas na condição de colaborador, vivenciei um intenso aprendizado na prática de escrever e editar.
Tínhamos muitas convergências. E, como bons amigos, divergíamos também. Mas era uma briga saudável, sem os limites do maniqueísmo ideológico que divide o Maranhão.
Sobre as eleições de 2010, por exemplo, nossas opiniões contrariavam-se. Walter achava que o melhor caminho para o PT seria a aliança com o PMDB no Maranhão, seguindo a orientação do comando nacional petista e de Lula.
E justificava assim: “A Sé não cabe na Santaninha”, referindo-se às dimensões da catedral de São Luís e da igreja no diminutivo. Para ele, a política local não poderia sobrepor a nacional.
Eu replicava: “Walter, já que você falou de igreja, o melhor casamento do PT é com o PC do B. Os dois braços da oligarquia – Sarney e Jackson – estão fraturados. É o momento de uma terceira força política avançar na disputa aqui. Vou defender a candidatura de Flavio Dino.”
Assim, entrávamos pela madrugada em exaustivas conversas. A última, por telefone, começou às 10 da noite e parou quase a uma hora, já na madrugada do dia seguinte.
O que mais impressionava em Walter era a erudição. A capacidade de entender e discorrer sobre variados assuntos em profundidade.
Certa vez, em um dos nossos animados papos no escritório da casa dele, animou-se ao falar sobre o escritor Edgar Alan Poe. Como exímio jornalista investigativo, WR conhecia a fundo a literatura policial.
Não só discorreu sobre a vida conturbada e o perfil literário de Poe, como recitou “O corvo” em refinada performance interpretativa.
WR oscilava entre o bom humor e a ira, aquele mais que este. Porém, quando a ira aflorava, era capaz de destruir o adversário lançando sobre este todas as suas armas.
Uma parte da cidade o detestava, porque às vezes extrapolava nas avaliações e acabava ferindo pessoas de boa índole. Outra parte o idolatrava.
A tristeza deste texto é que não terá réplica. Walter silenciou. E com ele toda a capacidade argumentativa-investigativa que dava mais brilho ao jornalismo maranhense.
Walter fazia do jornalismo mais que um ofício. A profissão, para ele, era uma variedade de causas. E assim enfrentou o crime organizado no Maranhão; denunciou juízes e desembargadores, políticos e policiais; opunha-se às agressões ao meio ambiente; expunha as violações dos direitos humanos, especialmente a tortura; combatia o imperialismo e tantas outras mazelas do mundo.
Na campanha eleitoral de 2008, em São Luís, ele foi além da cobertura jornalística. Vestiu a alma de vermelho e virou militante da candidatura de Flavio Dino (PC do B) a prefeito, contra o atraso tucano de João Castelo (PSDB).
Mas este mesmo Dino também fora criticado antes e depois da eleição nas linhas do Colunão. Walter ajudava quando necessário, mas não bajulava.
Na noite da morte dele eu estava no hospital, acometido de uma súbita e incontrolável dor de cabeça que se espalhou pela nuca desde as 19 horas.
O médico diagnosticou “cefaléia de estresse” e despachou-me com remédios relaxantes.
Ao voltar para casa, ainda zonzo sob efeito dos medicamentos, teimei em ligar o computador e deparei-me com a pior notícia do ano: a morte de WR.
Não consegui acreditar. Ainda estou recuperando-me de tudo. Do cansaço e da perda. Vai ser difícil.
Escrito por Ed Wilson – www.blogdoedwilson.blogspot.com
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