sexta-feira, 23 de setembro de 2011

Por que um cachorro cheira o rabo do outro?


Eu sei. Eu conto.

Certa vez, ali pelo começo do mundo, Deus convidou os cães para uma festa no céu. Cães de todas as partes do recém-criado universo, logo depois que Moisés inventou o jornalismo-literário ao narrar o Gênesis.

Cães de todas as classes, cores e tamanhos. Do fiel pulguento que lambe a boca do bêbado do Largo do Glicério ao cãozinho liberal do sr. Adam Smith. 

Daqueles cachorros magros do mercado da Encruzilhada, no Recife, aos fofoletes de jardinescas madames paulistanas. 

Uma festa pra valer de todos os cachorros do mundo.  

Na chegada ao paraíso, uma placa, além do possante alto-falante babélico, avisava em todas as línguas do mundo: nobre cachorrada, favor guardar o fiofó na chapelaria.

Por ordem do asséptico Todo-Poderoso, justíssimo, nenhum cão, por mais asseado que fosse, poderia adentrar o recinto portando o seu ânus, o seu formiróide, a sua arrebitada bundinha -no caso das poderosas cadelas.

Na chapelaria, aquele mesmo malucão chapeleiro de Alice cuidava em catalogar os anéis de couro dos caninos, conforme o pedigree, pregas de classe ou pregas vulgares e sem origem.

Como não iriam precisar dos nobres cuzinhos na celebração com o Criador, todos os cães -até mesmo aquele cachorrinho chato do velho Ulysses-  acataram a ordem sem maiores choramingas.

Partes pudendas guardadas, distribuídas as cortiças para vedar as catingas do eu-profundo-animal, começou, então, a grande festa canina.

Tudo lindo, um baile divino e harmonioso...

Até que um cão selvagem começou a patifaria, a fuzarca, o funaré, a desordem.

Foi o maior risca-faca. Pense na cachorrada!

Assustado, Deus expulsou do paraíso, com raios fumegantes saídos dos seus dedos, aquelas criaturas mal-educadas.

Como quem tem cu tem medo -diz a lenda freudiana-, os cães saíram em desabalada carreira.

Naquela agonia toda, a chapelaria veio abaixo, alvoroço. Cada um dos cachorros pegou o fiofó que encontrou ali no chão dando sopa, o ânus que sobrasse, o furico possível.

O importante era não descer à terra, o planeta azul, desprovido, pois como todo mundo sabe, um fiofó por aqui, sempre faz muita falta.

Melhor um fiofó alheio, um cu postiço, contra a vontade, do que viver sem a importantíssima retaguarda para o resto da vida.

Moral da fábula, segundo a oralidade do sertão, aqui humildemente resgatada: desde aquele dia, desde aquela bagunça divina no céu, quando um cachorro encontra outro (cachorro), a primeira coisa que faz é cheirar o traseiro do semelhante.

Uma eterna e paciente busca do próprio fiofó, uma procura  que deve durar até o juízo final, século seculorum, amém. 
Escrito por Xico Sá - Folha Online, 22/09/2011

3 comentários:

Anônimo disse...

POXA CARA ESSA AI PARECE QUE FOI FEITO PRA VC.KAKAKAKAKAKAKKAAKA,PUBLIQUE.

Luiz Antonio Morais disse...

É mesmo? Tá publicado. E você deve ser também um cachorro daqueles vira-latas, que vive de rabo escondido. Talvez, entre as calças do seu prefeito.

Anônimo disse...

NÃO TENHO DÚVIDAS.ESSE ANÔNIMO AÍ,DEVE CHEIRAR,TODO DIA,O RABO E OUTRAS COISITAS MAIS DO SEU(DELE)PREFEITO RILVA LULITA!!