Blog do Solda Cáustico |
Os sonhos são mistérios revelados em forma de criptogramas.
Porém, tão logo nos acometem, tão mais depressa nos deixam. Os que nos
lembramos e contamos pouco nos revelam, pois muitas vezes nos falta a chave do
significado deles. Aqueles que sumiram novamente é que poderiam ser os pontos
mais altos do ‘mistério desvendado’ e que, infelizmente, ou felizmente, não o
foram. Infelizmente, porque somos curiosos natos. Será que o mistério da vida
estaria embutido num sonho e saber dele nos tornaria poderosos? Felizmente,
porque, se descobríssemos, talvez nem quiséssemos mais dormir. Uma das virtudes
do sono: sonhar. A outra seria descansar o corpo. Dormimos todas as noites para
pescar novamente aquele sonho maior que nos escapou, igual ao peixe maior. E
ele sempre escapa. Freud já disse que o sonho nos prepara para o dia. Sempre
acordamos com um sonho. Quanto mais nossa vida é monótona e sem cor, mais os
sonhos são agitados e coloridos. Há uma tentativa do nosso inconsciente de
manter o equilíbrio das funções do corpo com a vida lá fora. Os sonhos fariam
parte da nossa vital homeostase. Falo isso por mim. Podem existir outras
interpretações mais científicas. Mas, se minha vida está bem movimentada, o
sono é mais profundo e os sonhos desaparecem tão logo acordo. Não me lembro
deles. Se estou em fase de retiro, de pouca atividade, os sonhos me acompanham
durante o dia, por um bom tempo. Fico me lembrando deles. Esse é o equilíbrio vital
que imagino ser de grande importância. Quando quero só dormir e dormir é porque
quero sonhar. Quero viver nos sonhos o que não vivo acordado. Mesmo que o corpo
reclame depois de tanto descanso. Que acorde doído de tanto dormir. Não creio
ser importante saber o que um sonho quis dizer. Importante, pelo menos para
mim, é que o equilíbrio seja mantido. Aí vou eu, dormindo e sonhando.
Shakespeare perguntou se durante o sono da morte sonharíamos. Acho que não é
preciso sonhar. Não haverá dia seguinte.
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