quarta-feira, 12 de fevereiro de 2014

Os 10 mandamentos do bar são 11, por enquanto


Xico Sá - Folha de São Paulo

Como hoje estou totalmente desprovido daquela velha opinião formada sobre tudo -mantra do Raul que é a cara de muitos blogueiros de plantão-, volto a um assunto no qual tenho mais milhagem. E nem por isso mais sabedoria.

Como os leitores mais antigos sabem, tentamos aqui, rebordosa após rebordosa, sempre incrementar os nossos mandamentos da boemia, uma obra aberta que conta, a cada post escrito e reescrito, com a colaboração de vocês, amadores, profissionais ou simplesmente estagiários.

Sim, com o sol das grandes ressacas por testemunha, como diria o velho e profissionalíssimo Hemingway, é normal pensar em casamento, ser um bom homem etc. No livro “Pileques” (acima), outro mestre já refletia sobre essa metafísica do chá de boldo.

É o que temos para esta terça de ressaca cívica no país rojão diário:

I) Amigo(a), boemia é como futebol, é ritmo de jogo, sequência; se tu largas por uns dias, ela te pega na volta, mesmo que peças, suplicante, a tua nova inscrição.

II) É de bom-tom sempre guardar definitivamente o nome dos garçons, afinal de contas é no ombro deles que vais chorar, ao som de “Nervos de Aço”, a inevitável, acachapante e humaníssima dor de corno.

III) Na saúde e na doença, a culpa será sempre do tira-gosto, ah, aquela calabresa, aquele torresmo, aquela azeitona me fez mal à beça… Jamais a culpa será da sagrada bebedeira em si.

IV) A divisão do tempo da prosa, na mesa de um bar, deve obedecer ao seguinte critério: 50% sobre mulheres, 40% sobre futebol e 10% sobre as ressacas monstruosas, a nostalgia precoce das quedas. E que venham as próximas.

V) Direito máximo do consumidor boêmio: desde que o freguês não se incomode com água e sabão nos pés, poderá ficar no recinto até a descida do portão de ferro.

VI) É livre o “pindura”, data vênia, para fregueses com mais de cinco anos de casa, como reza a lei do usucapião.

VII) Meu bar/meu mar… É permitido nadar no seco.

VIII) Andem sempre com o endereço e os seus nomes completos pendurados na correntinha do pescoço.

IX) No país da impunidade, a saideira é como a lei, existe para ser desobedecida. Seu garçom faça o favor!

X) Procures sentar, amigo, sempre nas primeiras mesas do botequim, se possível na calçada, pois todos os dias, alguma mulher irada sai de casa, revoltada com o consorte, e diz assim: “Hoje eu vou dar para o primeiro que encontrar”. Se bem colocado, este primeiro serás tu, bravo boêmio.

XI) Não temas a condição de macho-tupperware , aquele sujeito que a freguesa do mesmo bar leva para casa com a esperança de devorá-lo mais tarde –depois que o miserável estiver minimamente em condições técnicas para o abate.

Sem drama, é isso mesmo. Nas tábuas sagradas da boemia, os dez mandamentos já começam com 11 regras, no mínimo. Ajude você também a construir o nosso grande código. Deixe sua colaboração aí nos comentários.

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