terça-feira, 9 de dezembro de 2014

Reflexões sobre a formação de professores de ciências (química/física/biologia) nas instituições de ensino superior no Maranhão



Fábio Lustosa Souza*
               
Muito se tem discutido, hoje em dia, qual o papel das nossas instituições de ensino superior, no que se refere à formação de futuros professores, mormente na área de Ciências da Natureza (Química Física e Biologia). Esta é uma questão que tenho me dedicado nos últimos anos, ao trabalhar minha tese de Doutorado em Educação em Ciências e Matemática pela UFMT/REAMEC, cujo objeto de investigação está centrado nos formadores de professores de Ciências.

Ao se analisar a conjuntura educacional dos cursos de formação inicial de professores de nossas universidades brasileiras (as licenciaturas) e dos Institutos Federais de Educação, sobretudo em nosso Estado do Maranhão, temos a observar que fomos formados para sermos especialistas em áreas determinadas do conhecimento científico, já que os currículos escolares desses cursos de licenciatura, pouco ou quase nada, refletem a verdadeira formação profissional a que aspiram os futuros professores.

Isto se deve a existência curricular composto por várias disciplinas de formação específica, em detrimento às disciplinas de formação pedagógica do professor, já que estas disciplinas se resumem aos últimos períodos dos aludidos cursos, o que é uma constatação lamentável já que o que se objetiva é a formação de futuros professores.

Neste aspecto, ainda continua sendo reproduzido nessas instituições de ensino superior o modelo curricular de formação que se apoia na “racionalidade técnica” do tipo “3+1”, o qual já é bastante questionado por alunos e parcela do corpo docente, por entenderem que tal paradigma de formação, já ultrapassado, em nada contribui para uma verdadeira formação de professores, haja vista o seu caráter bacharelesco, em detrimento da verdadeira formação de licenciados.

Santos &Schnetzler (2003), pesquisadores da área de ensino de Ciências, corroboram tal entendimento na medida em que defendem a necessidade de um ensino de Ciências (Química/Física/Biologia) que promova nos alunos a formação crítica e reflexiva, capaz de viabilizar a apropriação dos conhecimentos científicos como uma forma de ler e interpretar o mundo ao redor, em detrimento à formação tradicional de ensino praticada nos cursos de licenciatura, que persiste em centrar a formação de futuros professores no processo de transmissão-recepção, típico da visão cartesiana-newtoniana.

Hoje, deparamo-nos com professores recém-formados que saem de nossas instituições de ensino superior, e começam a exercer sua profissão seguindo modelos de seus melhores professores, ou até seguindo exemplos contrários, sem nenhuma experiência prática, a não ser aquela que se resume à disciplina referente ao Estágio Supervisionado, onde são obrigados a cumprirem uma carga horária em uma escola. A esse respeito chamo a atenção para a necessidade de uma reformulação curricular, onde se privilegiem as disciplinas de formação do professor, a exemplo de algumas universidades brasileiras (caso da USP). Por outro lado, precisamos estimular cada vez mais a formação continuada de professores, a fim de levá-los ao exercício da reflexão da prática docente e torná-los um “professor reflexivo” sobre e na sua prática (SCHON, 1992; ZEICHNER, 1993). Ao refletir sobre/na prática o professor poderá alcançar, ao final da carreira, um desenvolvimento razoável, na medida em que possa estar mais preparado para a tomada de decisão, sendo mais criativo, e detentor de vários saberes que foram produzidos ao longo de sua trajetória profissional.

Esta é uma discussão salutar que se tem travado nos vários espaços acadêmicos com os professores de Ciências, nas diversas atividades de formação continuada, a exemplo das Oficinas Pedagógicas, como a que ministrei para professores de Ciências de Viana-MA, em janeiro de 2014. Naquele momento, conclamei-os para uma reflexão em seu fazer pedagógico, no intuito de melhorarem a sua prática docente, embora não pudéssemos deixar de lado questões de natureza estrutural, e até mesmo de gestão, por que passam as escolas brasileiras de modo geral, mas destaco no formador de professores a responsabilidade maior no processo de formação de futuros professores, independente dos espaços escolares em que atuam.
Nesse sentido venho concordar com as palavras de Freire (1996) que já nos ensinava que “aprender é, portanto, uma construção diária, uma capacidade de observar, agir, criar e decidir, com vistas à construção de um saber que seja capaz de construir a realidade e transformá-la por meio da intervenção”.

Por fim, Nóvoa (1997) nos chama a atenção para a postura adequada a ser assumida pelo professor do século XXI, segundo o qual “precisamos situar nossa reflexão para além das clivagens tradicionais de ensino, sugerindo novas maneiras de pensar a problemática da formação de professores”. Este é, sem dúvidas, o grande desafio a ser assumido pelos formadores de professores em nossas instituições de ensino, sobretudo nos Institutos Federais de Educação, Ciência e Tecnologia, os quais têm assumido nos últimos anos a grande responsabilidade por esta formação acadêmica. Certamente, a mudança paradigmática de postura docente que almejamos irá favorecer a uma formação profissional mais contextualizada, interdisciplinar e crítica dos futuros professores.

* Professor e Diretor-Geral do IFMA/Campus Viana. Doutorando em Educação em Ciências e Matemática (UFMT/REAMEC). Mestre em Ciências (UFRRJ).

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