Fábio Lustosa Souza*
Muito se tem discutido, hoje em dia, qual o papel das nossas
instituições de ensino superior, no que se refere à formação de futuros
professores, mormente na área de Ciências da Natureza (Química Física e
Biologia). Esta é uma questão que tenho me dedicado nos últimos anos, ao
trabalhar minha tese de Doutorado em Educação em Ciências e Matemática pela
UFMT/REAMEC, cujo objeto de investigação está centrado nos formadores de
professores de Ciências.
Ao se analisar a conjuntura educacional dos cursos de
formação inicial de professores de nossas universidades brasileiras (as
licenciaturas) e dos Institutos Federais de Educação, sobretudo em nosso Estado
do Maranhão, temos a observar que fomos formados para sermos especialistas em
áreas determinadas do conhecimento científico, já que os currículos escolares
desses cursos de licenciatura, pouco ou quase nada, refletem a verdadeira
formação profissional a que aspiram os futuros professores.
Isto se deve a existência curricular composto por várias
disciplinas de formação específica, em detrimento às disciplinas de formação
pedagógica do professor, já que estas disciplinas se resumem aos últimos
períodos dos aludidos cursos, o que é uma constatação lamentável já que o que
se objetiva é a formação de futuros professores.
Neste aspecto, ainda continua sendo reproduzido nessas
instituições de ensino superior o modelo curricular de formação que se apoia na
“racionalidade técnica” do tipo “3+1”, o qual já é bastante questionado por
alunos e parcela do corpo docente, por entenderem que tal paradigma de
formação, já ultrapassado, em nada contribui para uma verdadeira formação de
professores, haja vista o seu caráter bacharelesco, em detrimento da verdadeira
formação de licenciados.
Santos &Schnetzler (2003), pesquisadores da área de
ensino de Ciências, corroboram tal entendimento na medida em que defendem a
necessidade de um ensino de Ciências (Química/Física/Biologia) que promova nos
alunos a formação crítica e reflexiva, capaz de viabilizar a apropriação dos
conhecimentos científicos como uma forma de ler e interpretar o mundo ao redor,
em detrimento à formação tradicional de ensino praticada nos cursos de
licenciatura, que persiste em centrar a formação de futuros professores no
processo de transmissão-recepção, típico da visão cartesiana-newtoniana.
Hoje, deparamo-nos com professores recém-formados que saem
de nossas instituições de ensino superior, e começam a exercer sua profissão
seguindo modelos de seus melhores professores, ou até seguindo exemplos
contrários, sem nenhuma experiência prática, a não ser aquela que se resume à
disciplina referente ao Estágio Supervisionado, onde são obrigados a cumprirem
uma carga horária em uma escola. A esse respeito chamo a atenção para a
necessidade de uma reformulação curricular, onde se privilegiem as disciplinas
de formação do professor, a exemplo de algumas universidades brasileiras (caso
da USP). Por outro lado, precisamos estimular cada vez mais a formação
continuada de professores, a fim de levá-los ao exercício da reflexão da prática
docente e torná-los um “professor reflexivo” sobre e na sua prática (SCHON,
1992; ZEICHNER, 1993). Ao refletir sobre/na prática o professor poderá
alcançar, ao final da carreira, um desenvolvimento razoável, na medida em que
possa estar mais preparado para a tomada de decisão, sendo mais criativo, e
detentor de vários saberes que foram produzidos ao longo de sua trajetória
profissional.
Esta é uma discussão salutar que se tem travado nos vários
espaços acadêmicos com os professores de Ciências, nas diversas atividades de
formação continuada, a exemplo das Oficinas Pedagógicas, como a que ministrei
para professores de Ciências de Viana-MA, em janeiro de 2014. Naquele momento,
conclamei-os para uma reflexão em seu fazer pedagógico, no intuito de melhorarem
a sua prática docente, embora não pudéssemos deixar de lado questões de
natureza estrutural, e até mesmo de gestão, por que passam as escolas
brasileiras de modo geral, mas destaco no formador de professores a
responsabilidade maior no processo de formação de futuros professores,
independente dos espaços escolares em que atuam.
Nesse sentido venho concordar com as palavras de Freire
(1996) que já nos ensinava que “aprender é, portanto, uma construção diária,
uma capacidade de observar, agir, criar e decidir, com vistas à construção de
um saber que seja capaz de construir a realidade e transformá-la por meio da
intervenção”.
Por fim, Nóvoa (1997) nos chama a atenção para a postura
adequada a ser assumida pelo professor do século XXI, segundo o qual “precisamos
situar nossa reflexão para além das clivagens tradicionais de ensino, sugerindo
novas maneiras de pensar a problemática da formação de professores”. Este é,
sem dúvidas, o grande desafio a ser assumido pelos formadores de professores em
nossas instituições de ensino, sobretudo nos Institutos Federais de Educação,
Ciência e Tecnologia, os quais têm assumido nos últimos anos a grande
responsabilidade por esta formação acadêmica. Certamente, a mudança
paradigmática de postura docente que almejamos irá favorecer a uma formação
profissional mais contextualizada, interdisciplinar e crítica dos futuros
professores.
* Professor e Diretor-Geral do IFMA/Campus Viana. Doutorando
em Educação em Ciências e Matemática (UFMT/REAMEC). Mestre em Ciências (UFRRJ).
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