quinta-feira, 8 de julho de 2010

MARIA-CHUTEIRA

O desaparecimento da jovem Eliza Samudio, a qual teria tido um filho com o jogador de futebol Bruno do Flamengo, e as suspeitas que recaem sobre o atleta, é o assunto do momento, e ocupa as páginas dos jornais, os noticiários de uma forma geral, , e como não poderia deixar de ser, as conversas de botequim.

Não vamos adentrar em análises subjetivas, sobre a participação ou não do famoso jogador no sumiço da jovem. Até o momento o que se tem de concreto é que Eliza Samudio, 25 anos, ex-amante do goleiro Bruno, desapareceu, e pode ter sido assassinada.

O que merece destaque neste episódio é a discriminação, o preconceito. O estereótipo é o de Maria-chuteira. Sim, Eliza é qualificada como uma Maria-chuteria, ou seja, faz ou fez parte do grupo de beldades que caçam jogadores de futebol, em busca da fama, do dinheiro fácil, e de uma estabilidade financeira. O estereótipo mostra antes de tudo o cinismo da sociedade. O que há de errado em ser uma Maria-chuteira ou Botineiras como as classificam os argentinos e espanhóis? Nada, absolutamente nada.

A criação de estereótipos, e sua posterior validação através do humor e das notas maliciosas nas colunas de fofocas, minimiza qualquer tipo de agressão sobre quem foi etiquetado. Eliza Samudio pode ter sido barbaramente assassinada, sem chance de defesa, torturada, esquartejada talvez, mas, sempre o mas, ela é ou era uma Maria-chuteira. O crime se efetivamente cometido, torna-se secundário. O suporte para tal raciocínio encontra-se no preconceito criado pelo estereótipo.

Quando se trata de criar o preconceito, principalmente sobre as mulheres, a imaginação da sociedade é farta. Existe a Maria-gasolina, a Maria-pagoderia, a Maria-roqueira, a Maria-congresseira, a Maria-batalhão. Porém nunca se ouviu falar em Maria-certinha, Maria-honestinha, Maria-corretinha, e nem em Maria-boazinha. O motivo é simples: a sociedade na maioria das vezes não cria estereótipos para elevar, cria para denegrir, para humilhar, para justificar o preconceito e a discriminação. O fenômeno é histórico e mundial. Em 2009 a revista francesa Les Dussousdusport criou uma lista com o nome de famosas Marias-chuteiras, e no topo estava Victoria Beckham. Na Argentina criou-se um seriado, sobre o assunto, chamava-se As Botineiras. Há ainda a lista das mais belas Marias-chuteiras.

Nada disto deveria existir ou mesmo ser aceito. A mulher deveria ser apenas a mulher. Que suas escolhas não orientem opiniões. A violência contra a mulher, que tanto se combate, encontra a primeira barreira na extinção do preconceito. Convoco os leitores a este primeiro passo. Vamos tratar Eliza Samudio como uma vítima indefesa, uma pós-adolescente sonhadora, uma mãe que trouxe a este mundo perigoso uma linda criança. O que fez ou deixou de fazer Eliza não importa.

Aurílio Nascimento – Jornal ODia online



Um comentário:

Anônimo disse...

tres interessant, merci