quarta-feira, 11 de novembro de 2009

DEPUTADO HOMENAGEIA PADRE EIDER



Chico Gomes exalta figura do Padre Eider, falecido segunda (9) em Viana

O falecimento do padre Eider Furtado, ocorrido segunda(9) em Viana por complicações renais, mereceu do líder do governo, deputado Francisco Gomes (DEM), um discurso emocionado durante a sessão ordinária desta terça-feira, 10. “Viana perde a sua memória viva e um dos seus filhos mais ilustres. Padre Eider era o conselheiro de todos, aquela pessoa respeitada, uma referência histórica da cidade. Quando queríamos saber alguma coisa, íamos ao Padre Eider e ele nos contava tudo”.

Aos 92 anos o padre Eider demonstrava a mesma vitalidade e lucidez de quando ingressou no seminário Santo Antônio, em São Luís, aos 20 anos, para iniciar a sua formação sacerdotal. Nasceu na localidade de Barro Vermelho, hoje Cajari. Formou-se padre por influência do Monsenhor Arouche, que comandou a Igreja Católica de Viana na primeira metade do século XX.

No exercício sacerdotal, serviu primeiramente em Viana como auxiliar do Monsenhor Arouche e depois em São Vicente Férrer, cuja paróquia abrangia também o município de Cajapió. Em seguida foi para Matinha e depois retornou a Viana, onde permaneceu até o fim da vida.

De conduta ética inabalável e visão progressista, Padre Eider ganhou notoriedade por divergir fortemente do bispo Dom Adalberto, de linha conservadora, que dirigiu a Diocese de Viana por quase três décadas, entre os anos 70 e 90. O episódio acabou ganhando as páginas dos principais jornais do país e custou a Eider a sua excomunhão pelo Vaticano.

Segundo Chico Gomes, a decisão do Vaticano representou um duro golpe na vida de um homem que sempre se pautou por correção e dignidade. “Foi uma vida de sofrimento, mas ele enfrentou tudo com muita coragem, convicção e fé”.

Tristeza de um lado, alegrias de outro. Apaixonado pelos valores históricos da cidade de Viana, Eider se juntou a outros vianenses e fundaram o Comitê de Defesa do Patrimônio Histórico, Cultural e Ambiental de Viana. Por meio dessa entidade deram início a uma luta pela preservação dos valores da cidade, que culminou com o tombamento da área histórica de Viana.

Num artigo para o jornal Cidade de Viana, fundado pelo jornalista Nonato Reis, e que circulou em Viana em 1989, Padre Eider exalta essa conquista e exorta os vianenses a assumirem os destinos da cidade. “Cabe agora não apenas ao Comitê de Defesa do Patrimônio Histórico, mas sobretudo ao poder público e também a todos os filhos de Viana e habitantes desta cidade preservar esse rico tesouro e guardar a preciosa memória desta terra e desta gente”, escreveu. Outra grande vitória foi a devolução dos sinos da Matriz em 1987, que haviam sido comercializados de forma criminosa.

Era de fato uma espécie de arquivo vivo da cidade. Se alguém queria saber como era a Igreja da Matriz no tempo em que foi construída, recorresse a Eider. “Ele tinha fotos, ele tinha tudo”, assinala Gomes. E a colonização da cidade, como se deu? Eider sabia. Costumava dizer que o marco foi a Fazenda São Bonifácio do Maracu, erguida pelos jesuítas em meados do século XVIII. Guardava consigo documentos de inestimável valor histórico, que só mostrava aos amigos mais chegados.

Já pelo fim da vida deu uma lição de desprendimento e grandeza espiritual. Os médicos descobriram que ele tinha sérios problemas nos rins. Deveria se submeter a dolorosas sessões de hemodiálises. Eider recusou de forma categórica. Alegou que já havia vivido o suficiente e que estava conformado com os desígnios de Deus. “Muitos amigos quiseram removê-lo disso, oferecendo-se até a buscá-lo para fazer tratamento em São Luís, mas ninguém conseguiu mudar o seu pensamento”, relembrou Gomes.

E assim Padre Eider enfrentou os seus últimos momentos com a mesma dignidade e bravura que o acompanharam por toda vida. “Seu corpo, já sem o vigor de antes, desceu para a terra; mas a sua alma, leve de bondade e repleta de justiça social, subiu para os reinos do céu”, concluiu Gomes.

Fonte: www.chicogomes.com.br



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