quinta-feira, 14 de março de 2013

Dia da Poesia




Você já amou uma mulher brilhante.

Você já amou uma mulher formosa.

Você já amou uma mulher

Silenciosa?

Que fala pouco.

E bem,

E baixo,

Que não eleva a voz por raiva

Nem má educação,

Que anda com seus pés de seda

Num mundo de algodão.

Que não bate, fecha a porta,

Como quem fecha o casaco

De um filho

(Ou abre um coração)?

Que quando fala, se aproxima

Ao alcance da mão

Pra que a voz não se transforme emgrito?

E que absorve o mundo

Sem re-percussão

Num olhar de preguiça

Num colchão de cortiça

Como um mata-borrão?

Mas um dia ela sai

Levando o seu silêncio

De pingüim andando solitário em

sua Antártica

(ou Antártida),

No eterno

Gelo sobre gelo

No infinito

Branco sobre branco

E dos cantos e recantos

Onde habitou calada

- entre oniausente -

Brotam aos poucos,

Os ruídos

Pisados,

Colocados embaixo do tapete

Guardados na despensa

Na gaveta mais funda

De uma vida em comum.

Os trincos falam,

A cafeteira chia,

A espreguiçadora range,

O telefone toca,

As louças tinem,

O relógio bate,

O cão ladra,

O rádio mia,

Toda a casa ressoa, reverbera

e brada

E a orquestra em pleno do teu

dia-a-dia

Ataca a algaravia

Fabril

Escondida no lençol de silêncio

Com que ela partiu.

Millôr Fernandes (By Blog do Solda)

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