O jornalista e blogueiro Décio Sá foi morto em 2012 em um bar na Avenida Litorânea |
Estes números foram apresentados no dia 2 deste mês em
assembleia geral da Organização das Nações Unidas (ONU) e a Síria não foi
incluída porque está em guerra. Vendo estes números, é assustador pensar que
nas duas últimas semanas dois blogueiros foram assinados no interior do
Maranhão. O caso mais famoso no Estado é o do jornalista Décio Sá, morto em um
bar, em 2012, na Avenida Litorânea.
Enquanto a Superintendência de Homicídios e Proteção a
Pessoa (SHPP), órgão vinculado a Secretaria de Segurança Pública do Estado,
investiga os crimes, jornalistas e blogueiros, principalmente os que escrevem
sobre política, convivem com o medo e constantes ameaças. No último sábado
(21), Orislandio Timóteo Araújo, o Roberto Lano, foi assassinado a tiros na
cidade de Buriticupu (a 407 quilômetros de São Luís).
Blogueiros Ítalo Diniz e Roberto Lano |
No dia
13 deste mês, Ítalo Eduardo Diniz Barros, foi morto com quatro tiros em
Governador Nunes Freire ( a 181 quilômetros da capital). Ambos escreviam sobre
política e foram ceifados de forma fria por homens em motocicletas.
O delegado titular da superintendência de homicídios,
Leonardo Diniz, informou que equipes da SHPP se dirigiram para o interior no
intuito de elucidar os casos. “Já estamos com equipe em campo e abrimos linhas
de investigações sobre o caso de Buriticupu. Acredito que em pouco tempo vamos
poder apresentar algo de concreto. Quanto ao crime de Nunes Freire, demos apoio
à superintendência do interior e estamos acompanhando de perto”, explicou.
O delegado titular da Superintendência Estadual de
Investigações Criminais (Seic), Thiago Bardal, acredita que esses assassinatos
estão diretamente ligados a crimes políticos. “Estes crimes são para intimidar,
com certeza. Como a polícia não tem bola de cristal, nós iniciamos
investigações após denúncias. E como a polícia do Maranhão vem cada vez mais
fechando o cerco contra criminosos, principalmente nas cidades do interior,
estes crimes começaram a aumentar”, disse.
Ameaças, medo e descaso
Não é preciso muito esforço para encontrar profissionais que
convivem com o medo. Chefe de reportagem do jornal O Estado e blogueiro, o
jornalista Daniel Matos afirma que as ameaças são constantes. “Recebo ameaças
constantemente, principalmente em comentários no meu blog. Até ligações com
esse teor eu recebi. Geralmente estas ameaças ficam apenas no campo da
intimidação, mas convivemos com isso sim”, contou.
Editor de política de O Estado e também blogueiro, o
jornalista Marco Aurélio D’Eça acredita que quem trabalha com blog acaba
despertando ainda mais ódio, até de autoridades como a polícia e o poder
judiciário. “Agente se sente ameaçado o tempo inteiro. Há insinuações e
intimidações. O problema principal, ao meu ver, é que blogueiros são vistos com
forte antipatia pelas autoridades. A polícia e o judiciário nos enxerga com
raiva. Por isso, vemos certo descaso nas apurações destes crimes”, asseverou.
Caso Décio Sá
Jornalista-Décio-Sá1A observação do jornalista Marco D’Eça
sobre o descaso na apuração destes crimes chama atenção para um dado
apresentado pelo CPJ na ONU. O Brasil, com 11 casos de assassinatos de
jornalistas não resolvidos desde 2008, quando começou esta contagem, ocupa o
11º lugar entre os países mais perigosos para estes profissionais. Segundo o
levantamento, na maioria dos casos, a prestação de contas chegou apenas aos
autores materiais, mas não até os autores intelectuais.
Em São Luís, o caso mais famoso é o do blogueiro Décio Sá,
que foi assassinado no 23 de abril de 2012, na Avenida Litorânea, com vários
tiros. Até hoje, apenas o assassino confesso, Jhonatan de Sousa Silva, e um
comparsa foram julgados e condenados. Os suspeitos de serem os mandantes do
crime seguem presos, mas ainda não foram condenados.
Dados da pesquisa do CPJ
– Aproximadamente 96 % das vítimas são jornalistas locais. A
maioria informava sobre a política e a corrupção em seus países natais.
– As ameaças frequentemente antecedem os homicídios. Em ao
menos quatro em cada 10 assassinatos de jornalistas, as vítimas haviam
denunciado ameaças, que quase nunca são investigadas pelas autoridades.
– Grupos políticos, entre eles facções armadas, são
suspeitos de cometer 46% dos casos de assassinato, um aumento de 6% em relação
ao índice de 2014. Funcionários governamentais e militares são considerados os
principais suspeitos em quase 25% dos casos. ( Imirante)
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