Vinícius Torres Freire - Da Folha Online
O país estava perto da desordem na noite de ontem. É preciso
conter por meios legais os fatores que podem nos levar a uma convulsão e a
violências. A revolta desaguou nas ruas, de modo espontâneo, talvez sem
controle, assim que se soube das conversas grampeadas de Lula, em especial
aquelas com Dilma Rousseff.
Parece que que a presidente colaborava com manobras
destinadas a criar empecilhos a decisões da Justiça, para dizer o mínimo.
Ainda que se venha demonstrar ilegalidade na divulgação dos
grampos das conversas de Lula, a publicação de diálogos daquele teor e grau de
baixeza criou fatos políticos. É irreversível. De qualquer modo, foi atitude
temerária da Justiça.
Isto posto, ressalte-se que, além das tratativas suspeitas
da presidente, há demonstrações grossas de que Lula intentava atravancar a
Justiça. O que mais significam seus pedidos para que ministros de Estado
pressionassem o Supremo Tribunal Federal? Há indícios de tentativa de fraude
processual. Há mais.
Dilma Rousseff nomeou um ministro da Casa Civil que faz
tempo e ainda ontem demonstrava descaso pelas instituições. Lula demonstrou-o
de modo prático e enfático ao cobrar atos suspeitos de futuros colegas de
ministério, na verdade liderados políticos. Lula avançou sobre Casa Civil,
Fazenda e planejava fazer o mesmo com o indicado para a Justiça.
Quais são as condições políticas de Lula assumir o
ministério?
A fim de manter a paz, cabe provocar o Supremo Tribunal
Federal, de levar o caso a essa corte. Isto é, instar o STF formalmente a se
manifestar sobre os procedimentos policiais e judiciais adotados nas
investigações a respeito de Lula e de outros envolvidos na Lava Jato.
É um primeiro passo no sentido de restaurar alguma paz e de
dar clareza ao entendimento do que é correto nesse processo. O Supremo seria o
árbitro óbvio, constitucional. Mas, nesta convulsão, uma manifestação imediata
da corte é uma condição de paz política.
O conflito já era aberto. A Câmara está para dar início,
talvez hoje, aos procedimentos de impeachment. Na noite de ontem, partidos da
coalizão governista começavam a abandonar Dilma. Há algum conflito nas ruas.
Boa parte da casta política está sendo investigada ou processada, se já não foi
condenada ou encarcerada.
Além do mais, o Brasil está estressado por uma crise
econômica abissal, causada por inépcia grosseira e também pela desordem
institucional, se não criminosa, que o governo provocou na economia.
Já éramos um país transtornado desde 2010, quando houve
campanha eleitoral perto de odienta, o que foi de fato em 2014. Depois de 2013,
a revolta geral com políticos foi piorada pelo início da crise econômica e
pelos escândalos corruptos. O descrédito chegou quase ao limite com o
estelionato eleitoral de Dilma Rousseff. A degradação agora é terminal, dados
os últimos escândalos, as chicanas subterrâneas do governo e de Lula.
Parece difícil enxergar mediadores do conflito político, de
líderes racionais da revolta justa contra tanto descalabro. Mas, de início, é
preciso restaurar a ordem: isto é, a confiança nos procedimentos institucionais
corretos para dar conta dessa ruína espantosa da vida brasileira.
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