Ricardo Kotscho:
Tempos atrás, quando a crise ainda não era tão dilacerante,
questionei aqui se já tínhamos chegado ao fundo do poço ou se o poço não tinha
fundo. A poucas horas da decisão sobre o impeachment, me pegunto o que nos
espera para lá do fundo do poço, pois não há o menor risco de algo melhorar e
nos levar de volta à tona tão cedo, qualquer que seja o resultado de domingo.
Chegamos a este momento crucial da vida brasileira como
aquela atleta suiça, Gabrielle Anderson, que foi tropeçando e se arrastando
exangue para cruzar a linha de chegada na maratona feminina da Olimpíada de Los
Angeles, em 1984.
No mesmo ano, o Brasil enchia as ruas de festa e esperança
na campanha das “Diretas Já” para reconquistar o direito de votar para
presidente da República, ao final da longa noite da ditadura militar. Agora,
assistimos ao movimento assanhado da “Direita Já”, que quer voltar ao poder a
qualquer custo, nos remetendo de volta ao período traumático pré-golpe de 1964,
como constatou Mino Carta em seu editorial desta semana.
Nestas últimas horas, atingimos o grau máximo de degradação
dos usos e costumes políticos, com parlamentares e partidos inteiros mudando de
lado, como quem troca de camisa, sem dar a menor satisfação à distinta platéia.
Longe dos microfones e dos holofotes, a pátria mãe gentil é leiloada em
tenebrosas transações, repetindo a velha canção.
Entre a continuidade do governo Dilma, que já não existe, e
o advento de um possível governo Temer, que trás a marca do retrocesso, as
pessoas com quem converso, exaustas e desalentadas, ficam em dúvida sobre o que
pode ser pior para elas, diante da total falta de perspectivas de uma mudança
para melhorar a nossa situação.
Até porque, com uma ou com outro, o Congresso Nacional, o
mais medíocre e tacanho que já tivemos após a redemocratização do País,
continuará o mesmo, com estas figuras patéticas, que desde ontem e até agora
vão se revezando nos microfones da Câmara sem falar coisa com coisa, apenas
disputando o espólio da Nação.
Por isso, para não perdermos as esperanças, só vejo um jeito
de sairmos desse fundo de poço sem fundo: convocando novas eleições gerais, por
iniciativa de quem ficar no Executivo, com a missão de promover uma profunda
reforma política-partidária-eleitoral, no mais curto prazo possível. O Brasil
não pode mais esperar.
Sei que é sonhar muito alto, mas se perdermos a capacidade
de sonhar, a vida fica sem sentido.
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