Do Jornal O Extra
Ex-traficantes comentam rotina de favelas Foto: Rafael Moraes
Pedro Zuazo
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Nota: palavras chulas e palavrões foram mantidos no texto,
porque são termos que ajudam na compreensão da mensagem.
Em áreas dominadas pelo tráfico de drogas no Rio de Janeiro,
o conceito de estupro é diferente do descrito pelo Código Penal. Para
investigar esse mundo paralelo, o EXTRA ouviu três ex-traficantes de
comunidades dos complexos da Maré e do Alemão. Um deles resumiu a visão do que
aconteceu com a jovem X., num fim de semana, no Morro do Barão, na Zona Oeste:
“Pela lei dos homens é estupro. Pela lei do crime é sacanagem”.
A visão bandida encoberta o crime, justifica o criminoso e
despreza a vítima, que é nivelada ao patamar de quem comete o abuso. Nesta
visão distorcida, não é uma relação entre abusada e abusador. “É puto com
puta”, resume um dos ex-traficantes.
O caso de X. relevou que a visão dos bandidos é absorvida
pelas vítimas de violência, tanto que a jovem era estuprada desde os 12 anos e
só se deu conta da violência com a divulgação do vídeo.
Conceito de estupro
“Na comunidade, estupro é pegar a mulher à força, sem
consentimento. Esse tipo de coisa, nenhuma facção admite. O tráfico também tem
sua ética. Estupro dá morte. Um cara pode até esculachar uma mulher se ela
começa a se envolver com outra facção, mas, ainda assim, é melhor matar do que
estuprar. O fato de ser menor de idade não tem nada a ver. Na favela tem um
monte de meninas com 13, 14 anos dando porque quer. Elas buscam putaria. Pela
lei dos homens é crime, mas para o tráfico é sacanagem”.
Sob efeito de drogas
“Dizem que foi estupro porque X. estava doidona, não estava
em sã consciência. Se fosse assim, um cara que estivesse doidão de crack e
desse um tiro de alguém poderia dizer que não estava consciente e não poderia
ser punido”.
Vídeo com vítima
“É esculacho fazer aquele vídeo zoando a menina enquanto ela
dorme, mas tem que pensar na orgia que aconteceu ali. Você tá na sacanagem,
tira uma foto, encosta o dedo lá… Para quem está de fora, eles deram mancada.
Mas ali, na hora da sacanagem, é puta com puto”.
Orgias na favela
“É comum ter putaria na favela. E tá cheio de menina de
classe média e alta que vai lá para usar drogas e transar. É um status estar
perto do traficante. Tudo o que o pai proíbe, ela faz. Cheira, fuma, conhece um
cara da boca e daqui a pouco está na casa dele. Essas vão para usar drogas e se
divertir. Mas tem também as que vão para ganhar dinheiro, e saem com a bolsa
cheia. É orgia com 30, 40, 50 pessoas, e sempre regada de muito uísque”.
O abatedouro
“Toda favela tem um lugar assim. O da Barão estava até meio
feio. Tem uns que têm suíte com o teto espelhado, outros põem até aquele poste
de pole dance. Vai de acordo com o poder aquisitivo do patrão. Aí você está no
baile com uma menina, pede a chave do lugar e vai para lá. Assim que um sai,
entra outro. É normal”.
As novinhas
“Sempre teve novinha, mas antigamente, nos anos 80 e 90, era
muito menos. Até porque o baile não era assim. Começava com charme e tinha
aquele momento de música lenta para só depois tocar funk melody. Agora, é
putaria do começo ao fim. Você vê uma mãe botando a filha de 5 anos para ouvir
funk e achando graça de ver ela rebolando até o chão. Nos anos 80, não tinha
menor no baile e nem na boca. Essa geração nova de traficantes deixa isso rolar
solto”.
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