segunda-feira, 12 de abril de 2010

O CANTO FULÊRO DO MARANHÃO ESBANDALHADO



Estou com raiva.

De mal com a vida, com o mundo, com este lugar.

Hoje não tenho ironias pra vender.

O clima está pesado demais, dentro e fora da minha cabeça.

Ecoa em mim o estado febril que precede o suicídio dos malditos.

Meus caros amigos, a vida aqui está muito chata e eu quero pegar a estrada de volta para o meu autoexílio.

Momento em que não me sai da mente aquela propaganda nefasta do governo estadual sobre a pavimentação das estradas em todo o Maranhão.

“De Pinheiro a Santa Helena. Tá tudo esbandalhado. Tá tudo acabado.”

É a minha paródia pra essa gente estúpida, hipócrita, enquanto em Imperatriz se conta os mortos por falta de leitos como quem se confere os acessos de um inusitado vídeo no youtube.

Mas ao menos pelo teor deste post escrito aqui na “Ilha do Medo” tenho a convicção de respirar: Vivemos numa democracia de fato e em pleno Maranhão!

Eu realmente não sou obrigado a ouvir o canto fulêro de Alcione gravando seu DVD na Praça Maria Aragão. Dou graças a Deus por ele ter me proporcionado o luxo dessa liberdade mínima.

Ainda assim me atingiu de longe a podridão de todo o aparato montado naquele local projetado pelo mesmo infeliz que desenhou Brasília.

Ao contrário da grande maioria, nunca fui fã da prestigiada cantora maranhense, embora tenha que reconhecer sua trajetória de sucesso pessoal e só.

Minha tumultuada relação com a Marrom vem do fato de eu não saber dissociar a arte da vida e vice-versa.

Um fatalismo que aprendi com a popart de Andy Warhol ou com os discursos delirantes de Pedro Bial em dias de paredão no Big Brother Brasil.

Zeca Baleiro é um gênio não somente pela arte, mas pela metáfora poderosa que sua trajetória subversiva me põe a refletir, a despeito da mediocridade de tudo que até então era produzido por aqui.

Rita Ribeiro não é só uma afinada intérprete a quem a gente recorre quando quer se enxergar claramente no espelho, mas um canto tão digno da pessoa que me faz chorar de emoção todas as vezes que a ouço a tempo e ao vivo.

Ambos, Zeca e Rita, cruzaram o Estreito dos Mosquitos mandando às favas o patrocínio oficial que amarrou e amarra aqui a grande maioria dos artistas-minhoca.

A ambos é creditado o louvável resgate da obra de um sambista fenomenal que quase morreu no ostracismo. Uma “sensibilidade sambística” que contemporâneos da mesma “ala musical” como a própria Alcione não tiveram em relação ao mestre Vieira (o teu samba é eternamente Bom!).

A história de Zeca Baleiro e Rita Ribeiro um dia há se ser contada com ares merecidamente épicos, como a alegoria única e bem acabada de uma liberdade que nunca chegou de fato à eterna capitania hereditária.

Não tenho o mesmo sentimento em relação à Marrom. E não é nem de longe uma questão de cor da pele. Sua aura pra mim é Cinza.

Falo isso com o tom confessional que é devido aos blogues e com o compromisso sincero de reverenciar só aquilo o que realmente me toca, o que não é o caso de Alcione.

Detesto sua postura, detesto esse som maroto que serve de pano de fundo para toda a vanguarda do atraso que nos acompanhou e acompanha até os dias de hoje.

Detesto essas denominações esdrúxulas de bandas, de intenções pejorativas, de gente compromissada só consigo mesmo e que pela luz do inferno tem o dom de iludir, ludibriar.

Bandidas. Esbandalhadas. Fulêras.

São autodenominações que me acalantam e confirmam a beleza de um dos versos mais profundos do cancioneiro popular.

Cada um sabe a dor e a delícia de ser o que é.

Não calo na boca notícia ruim.

* Samuel Marinho é colaborador do blog do Ed Wilson, contador e servidor público federal.



Nenhum comentário: