Foto: Pedro Mendengo |
José Ribamar D’Oliveira Costa
Junior*
Parecia
que começava mais um dia de sábado de aleluia em Viana, sem muitos balangandãs,
mas, com certeza, com a presença dos tradicionais Judas dependurados em alguns
postes da cidade, satirizando pessoas folclóricas e/ou políticos
desavergonhados. Eis que um pouco antes das sete da matina a cidade inteira
desperta ao som estarrecedor de um carro volante anunciando a famigerada “Festa
do Bode” e convidando o povo em geral para prestigiála.
Ao
se falar em festa do bode nos vem à mente a obra do célebre autor peruano Mário
Vargas Llosa (ganhador do Prêmio Nobel de Literatura) com esse título, cujo
enredo preocupa-se com questões político-sociais na América Latina.
Lamentavelmente, essa festa pagã realizada em Viana em plena Semana da Páscoa nada
tem de social e muito menos cultural, mas, na verdade, uma deturpação de tudo
isso. Pois, era anunciada com estardalhaço uma festa em que o centro das
atenções seria um bode, animal com simbologia satânica. Isso, mesmo, de chifre
e tudo. E, pasmem! Como forma de atração do público um inusitado concurso onde
o vencedor seria o folião que desse o beijo mais longo nos beiços do bode, e
como prêmio receberia uma grade de cerveja e o próprio bode.
Como
sabemos, Viana é uma cidade histórica, de forte tradição e vasta cultura, que
já teve homens e mulheres ilustres com destaque não só em nosso Estado, mas, também,
a nível nacional e, mesmo, internacional, como, para exemplificar, a saudosa
musicista Dilú Mello.
Pois
bem. Como se não bastasse o despautério decorrente do barulho ensurdecedor do
anúncio da malfadada festa no alvorecer do dia, num verdadeiro acinte à lei do
silêncio, que, diga-se de passagem, em Viana parece não se respeitar, essa
festa do bode não serve para acrescentar nada à nossa cultura, mas, ao
contrário, é deprimente e não se amolda aos níveis de civilidade humana na
pós-modernidade.
Portanto,
antes que seja tarde, vamos resgatar a nossa cultura, as nossas festas e
folguedos tradicionais, que durante algum tempo vinham adormecidos, mas que,
apesar de tudo, começa a despertar para abrilhantar a sociedade vianense.
Ressalte-se,
porém, que no começo deste ano assistimos a apresentação da linda “Festa de
Reis” em Viana, de cunho religioso que ilustra a visita dos três reis magos ao
menino Jesus, sendo tradicionalmente encenada no período de 24 de dezembro a 06
de janeiro. Acompanhamos o cortejo da Praça de São Benedito até o largo da
Igreja da Matriz. Foi tudo maravilhoso, ficamos encantados. Os participantes,
todos bem paramentados e treinados, executavam cantorias, passes e bailados
harmoniosos, e estampavam no rosto alegria e satisfação pela bela apresentação.
Parabéns
às entusiasmadas “Das Neves” e “Maria Prego”, demais organizadores e
participantes da Festa de Reis. Esta, sim, merece ser aplaudida; aquela outra
pelo que me consta, graças a Deus, não fora bem sucedida.
*Juiz
de Direito e membro da AVL – Academia Vianense de Letras.
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