sexta-feira, 8 de junho de 2012

Na contramão da cutura vianense

Foto: Pedro Mendengo
José Ribamar D’Oliveira Costa Junior*

Parecia que começava mais um dia de sábado de aleluia em Viana, sem muitos balangandãs, mas, com certeza, com a presença dos tradicionais Judas dependurados em alguns postes da cidade, satirizando pessoas folclóricas e/ou políticos desavergonhados. Eis que um pouco antes das sete da matina a cidade inteira desperta ao som estarrecedor de um carro volante anunciando a famigerada “Festa do Bode” e convidando o povo em geral para prestigiála.

Ao se falar em festa do bode nos vem à mente a obra do célebre autor peruano Mário Vargas Llosa (ganhador do Prêmio Nobel de Literatura) com esse título, cujo enredo preocupa-se com questões político-sociais na América Latina. Lamentavelmente, essa festa pagã realizada em Viana em plena Semana da Páscoa nada tem de social e muito menos cultural, mas, na verdade, uma deturpação de tudo isso. Pois, era anunciada com estardalhaço uma festa em que o centro das atenções seria um bode, animal com simbologia satânica. Isso, mesmo, de chifre e tudo. E, pasmem! Como forma de atração do público um inusitado concurso onde o vencedor seria o folião que desse o beijo mais longo nos beiços do bode, e como prêmio receberia uma grade de cerveja e o próprio bode.

Como sabemos, Viana é uma cidade histórica, de forte tradição e vasta cultura, que já teve homens e mulheres ilustres com destaque não só em nosso Estado, mas, também, a nível nacional e, mesmo, internacional, como, para exemplificar, a saudosa musicista Dilú Mello.

Pois bem. Como se não bastasse o despautério decorrente do barulho ensurdecedor do anúncio da malfadada festa no alvorecer do dia, num verdadeiro acinte à lei do silêncio, que, diga-se de passagem, em Viana parece não se respeitar, essa festa do bode não serve para acrescentar nada à nossa cultura, mas, ao contrário, é deprimente e não se amolda aos níveis de civilidade humana na pós-modernidade.

Portanto, antes que seja tarde, vamos resgatar a nossa cultura, as nossas festas e folguedos tradicionais, que durante algum tempo vinham adormecidos, mas que, apesar de tudo, começa a despertar para abrilhantar a sociedade vianense.

Ressalte-se, porém, que no começo deste ano assistimos a apresentação da linda “Festa de Reis” em Viana, de cunho religioso que ilustra a visita dos três reis magos ao menino Jesus, sendo tradicionalmente encenada no período de 24 de dezembro a 06 de janeiro. Acompanhamos o cortejo da Praça de São Benedito até o largo da Igreja da Matriz. Foi tudo maravilhoso, ficamos encantados. Os participantes, todos bem paramentados e treinados, executavam cantorias, passes e bailados harmoniosos, e estampavam no rosto alegria e satisfação pela bela apresentação. 

Parabéns às entusiasmadas “Das Neves” e “Maria Prego”, demais organizadores e participantes da Festa de Reis. Esta, sim, merece ser aplaudida; aquela outra pelo que me consta, graças a Deus, não fora bem sucedida.

*Juiz de Direito e membro da AVL – Academia Vianense de Letras.

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