O polêmico Fernando
Gabeira , jornalista, escritor e político, prometeu voltar ao Maranhão em breve
para filmar a devastação causadas por búfalos que segundo ele, multiplicaram-se
tanto que arrasaram a lavoura, e continuam aumentando. Como se sabe, o maior
rebanho bubalino do estado se encontra na Baixada Ocidental Maranhense. Será
que depois dos presídios infernais, os temíveis búfalos serão a bola da vez na
destruição do estado? A conferir.
Abaixo o artigo de Gabeira.
“Embora o declínio seja visível, a força de Sarney no
Maranhão também o é”
Fui algumas vezes ao Maranhão. Não é, para mim, uma região
distante que possa analisar racionalmente em laboratório. Gosto de lá e tenho
apreensão por seu futuro.
Os primeiros contatos que tive com o Maranhão foram
estimulados pelo interesse por Alcântara, uma bela cidade, ligada a São Luís
pela Baía de São Marcos. Alcântara são ruínas deixadas pelos ricos que a
abandonaram, levando consigo maçanetas de porta, janelas, tudo o que puderam
carregar.
Em Alcântara trabalhei na mediação entre os interesses das
comunidades negras e indígenas e a base espacial, marcada por fracassos e até
uma tragédia. Minha hipótese era de que, recuperando o casario colonial,
harmonizando o interesse de quilombolas, indígenas e a própria base, seria
possível construir um modelo em que várias épocas do Brasil convivessem no
mesmo espaço. Isso ampliaria as possibilidades turísticas do Estado. Quase
ninguém se animou com a ideia.
Mais tarde voltei ao Maranhão para cobrir as enchentes em
Trizidela do Vale. E, finalmente, fiz um trabalho em Buriti Bravo sobre saúde,
tendo de percorrer hospitais e postos em vários pontos da região, incluindo
cidades médias, como Caxias.
A visita da última semana a São Luís foi a segunda que fiz
por causa dos conflitos no Complexo Penitenciário de Pedrinhas. Cabeças
decapitadas, superlotação, luta interna na cúpula da Segurança, quase tudo do
mesmo jeito. Quase tudo porque o governo, em vez de refletir sobre a ideia de
manter metade dos presos de todo o Estado num só presídio, contratou uma
empresa de segurança de aliados.
A governadora Roseana Sarney afirma que dizer que o Maranhão
é dominado por uma família há 48 anos se trata de ignorância ou má-fé. Para
mim, soa como afirmar que é ignorante quem acredita que a Terra gira em torno
do Sol.
O que os olhos me dizem em São Luís e outras cidades? Que a
família Sarney é onipresente em nome de ruas, vilas, maternidades, escolas. O
ponto máximo dessa ocupação simbólica é a transformação do Convento das Mercês
numa espécie de museu José Sarney, mascarado sob a denominação Fundação da
Memória Republicana Brasileira. Se vejo TV, ouço rádio, leio o jornal diário e
pergunto quem são os donos, a resposta é sempre a mesma: a família Sarney.
Sarney ganhou uma dimensão nacional superior à importância
política do Maranhão. Ele não só enriqueceu mais, mas também ocupou mais
espaços no poder do que seu Estado natal ocuparia sem ele. Com a crise de
Pedrinhas, o Maranhão ressurge no noticiário e é razoável examinar a trajetória
de Sarney em relação ao Estado que domina há quase meio século.
Quando foi eleito governador, em 1966 Sarney foi tema de um
filme de Glauber Rocha. Fazia discursos inflamados, prometia acabar com a
corrupção, com a impunidade, enfim, revolucionar um Estado paupérrimo. Hoje o
Maranhão tem 12% de miseráveis, mais da metade da população não tem banheiros.
Sarney tornou-se poderoso, os empreendimentos da família cresceram, mas tudo
indica que agora essa relação dominadora pode ser derrubada.
Sarney e Roseana são aliados do PT. Certamente se inspiraram
na forma de argumentar do governo federal para se defenderem na crise. Roseana
afirmou que o Maranhão se tornou violento porque ficou mais rico. Quem não se
lembra, em junho de 2013, dos argumentos de que a prosperidade era a causa das
manifestações de rua?
Mas ela errou o tom. Na mesma semana licitava lagostas e
caviar para alimentar o Palácio dos Leões, como o próprio nome indica. Sarney
também lançou mão da tática do governo federal: ressaltar um ou outro aspecto
positivo e se fixar nele como tábua de salvação, como o ministro Aloizio
Mercadante ao examinar o baixo resultado do Pisa ou o ministro Guido Mantega
descrevendo criativamente os números da economia.
No Maranhão, disse ele, há conflitos nos presídios, mas não
se espalham pelas ruas. E foi mais longe na tática de argumentação dos setores
oficiais da esquerda: apontou para os problemas dos outros. Mencionou o
Espírito Santo e Santa Catarina, onde houve conflitos de rua, até mesmo acabando
com o carnaval capixaba. Horas depois, distritos policiais metralhados, ônibus
incendiados, uma menina de 6 anos morta pelas chamas, em São Luís. Não estavam
preparados para a crise precisamente porque todos esses anos de dominação
criaram uma espécie de viseira, alimentada pela falta de uma imprensa
independente mais forte, à altura do Maranhão.
Embora o declínio seja visível, a força de Sarney no
Maranhão também o é. As eleições maranhenses podem ter dimensão nacional. O
adversário mais bem colocado é o presidente da Embratur, Flávio Dino, do PC do
B. Depois de 48 anos de dominação do clã, passar às mãos do PC do B não deixa
de ser uma trajetória singular para um Estado com tanto potencial.
Como o campo da política é mais pantanoso, não se sabe até
que ponto virão mudanças. A sensação que tive em São Luís é de que, ao menos na
capital, há um desejo de romper com o longo domínio. Com baixos índices sociais
e alto nível de violência, os sobressaltos na sociedade são tão imprevisíveis
quanto na política.
Búfalos - da Ilha de Marajó para a baixada maranhense. Destruição total do meio ambiente |
Devo voltar ao Maranhão para filmar os búfalos que
importaram para desenvolver uma região do Estado. Os búfalos multiplicaram-se
tanto que arrasaram a lavoura, e continuam aumentando. Quem sabe, correndo por
fora, os búfalos não se tornem também protagonistas de destaque no Estado? Eles
dão carne, leite e queijo, mas devastam tudo o que há ao redor.
Isso me parece muito com o destino de um Estado que cresce,
mas deixa um rastro de destruição, violência e miséria. Os poderosos estão
felizes. Os búfalos, também.
José Sarney precisava ter acreditado nos seus discursos de
1966, quando se elegeu. Estão lá no filme do Glauber. Seguiu um caminho
diferente. O filme agora é outro: poder, riqueza, glória e o mesmo povo pobre
das imagens de Glauber.
*Fernando Gabeira é jornalista.
5 comentários:
O Fernando nao é polêmico. ele tem uma visão do bem e quer ajudar o nosso Maranhão . já que tem muitos maranheses que estão no poder e nao fazes as suas obrigações . ass edson serra.
Grato pela participação. Sds.
É MUITO FÁCIL É SÓ O GOVERNO COMPRAR TODO REBANHO MARANHENSE RESOLVE TODA ESSA SITUAÇÃO
Mais fácil ainda seria se os criadores fossem conscientes e criassem esses predadores em terras particulares, cercadas, ao invés de os deixarem livres, destruindo tudo o que encontram pela frente, em terrenos públicos. A Baixada não é a Ilha de Marajó.
Concordo, a Baixada maranhense não é a Ilha do Marajó. E quem sofre com tudo isso é o pequeno criador que não possui assistência de ninguém, principalmente do poder público. Enquanto que o pescador tem o apoio do Governo Federal com o Seguro Pesca (proibição da pesca na época da piracema), mas nunca deixou de pescar durante o período. Para piorar a situação continua a pescar com malha 4. Configurando esse ato como um crime. E é o pequeno criador que "paga o pato".
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